quinta-feira, 2 de junho de 2011

Redes sociais (I)

Com a finalidade de evitar mal-entendidos, começo dizendo que não sou contra o uso de redes sociais. Aliás, não sou contra a maioria das coisas que são inventadas e sim contra o uso que se faz de muitas delas. Para tudo o que existe é o uso que define se é algo bom ou ruim.

Considero as redes sociais excelentes para localizar amigos que a distância e / ou o tempo separaram, mas, infelizmente, não é este o uso mais comum. A maioria usa-as como mais uma tentativa de preencher o vazio de suas vidas. A carência de autênticos relacionamentos provoca nas pessoas um vazio que elas, equivocadamente, pretendem preencher com relacionamentos vazios. E na tentativa de preencher tal vazio as pessoas partem para a sôfrega adição de “amigos” em redes sociais. O problema é que tais adições provocam uma subtração. São de Rollo May, em seu livro intitulado O homem à procura de si mesmo, as palavras abaixo. (os grifos são meus)
“A aceitação social, o ‘ser estimado’ tem tanta importância porque mantém à distância a sensação de isolamento. Quando a pessoa está cercada de cordialidade, imersa no grupo, é reabsorvida, como se voltasse ao ventre materno, em simbologia analítica. Temporariamente esquece a solidão, embora ao preço da renúncia à sua existência como personalidade independente. Perde assim a única coisa que a ajudaria positivamente a vencer a solidão a longo prazo, isto é, o desenvolvimento de seus recursos interiores, da força e do senso de direção, para usá-los como base de um relacionamento significativo com outros seres humanos. Os homens ‘empalhados’ acabam por tornar-se ainda mais solitários, por mais que se apóiem nos outros, pois gente vazia não possui a base necessária para aprender a amar.”
Conforme é dito acima, estar cercado de cordialidade e imerso em grupos pode fazer com que a solidão seja temporariamente esquecida, mas, por outro lado, impede que ela seja vencida a longo prazo. O problema é que na sociedade em que vivemos as pessoas desejam tudo imediatamente e de preferência sem qualquer esforço.

Solidão é um assunto recorrente nos meios de comunicação. É o tema anunciado para amanhã no Globo Repórter. E foi, recentemente, assunto de uma reportagem de Guilherme Genestreti intitulada Todo mundo só, publicada na edição de 24 de maio de 2011, no caderno Equilíbrio que acompanha a edição de terça-feira do jornal Folha de São Paulo. Foi dela que copiei os trechos abaixo.

São do psicólogo americano John T. Cacioppo, diretor do Centro de Neurociência Cognitiva e Social da Universidade de Chicago (EUA) e co-autor do livro Solidão – A natureza humana e a necessidade de vínculo social, que reúne quase 20 anos de suas pesquisas sobre o tema, os dois trechos abaixo:
“Estar imerso na internet ou ser rodeado de parentes não muda o quadro ‘epidêmico’ (solidão, segundo ele, virou epidemia).
“Compensar solidão física com centenas de amigos no Facebook não resolve. ‘É como tentar matar a fome com aperitivo’. ‘A interação ali é eletrônica, a pessoa não é parte da vivência do amigo’.”
Adorei a comparação: ‘É como tentar matar a fome com aperitivo’. John T. Cacioppo fala de compensar solidão física, mas ela nem sempre é física. Vejam o que diz uma atriz citada na reportagem.
“A atriz Maristela Vanini, 39, diz que sabe o que é ser solitária na companhia dos outros. Desde os cinco anos, quando ouvia discos do Carpenters em seu quarto, ela afirma se sentir só.
Ela mora com os pais, que a apóiam. ‘Mas me sinto incompreendida. Em casa não se fala sobre sentimentos’.
Seus pais não viram a primeira vez em que ela subiu em um palco como profissional, dez anos atrás.
‘Eu cheguei toda animada para contar aquela emoção, mas estavam todos dormindo. Solidão não é opção’, diz.”
Interessante é que entre as músicas dos Carpenters que fizeram grande sucesso existe uma intitulada Solitaire. Maristela Vanini diz que em sua casa não se fala sobre sentimentos. Será uma exceção ou é a regra nesta sociedade em que só se fala sobre coisas superficiais? Sentimentos são algo profundo e são poucos os dispostos a neles mergulhar. Em uma sociedade fascinada pela interação com máquinas os sentimentos perderam importância.

Sherry Turkle, psicóloga e professora do Massachusetts Institute of Techonology (EUA) diz o seguinte:
“Estar conectado dá a ilusão de termos companhia sem as demandas de uma amizade”.
Uma frase tão curta, mas que cita duas coisas que os componentes desta sociedade (que tem como um de seus lemas o me engana que eu gosto) tanto apreciam: a ilusão e a obtenção de algo sem qualquer esforço. O problema é que desta forma jamais superarão seus problemas, dentre eles a solidão.

Sendo um assunto deveras interessante e sobre o qual, para mim, é difícil falar em apenas uma postagem com tamanho digerível por todos aqueles dispostos a visitar blogs, prosseguirei com ele na próxima postagem, ok?

3 comentários:

Homerix disse...

Belíssima compilação de declarações, magnificamente atreladas ao tema.
Tenho também Facebook, mas tenho a noção precisas de que, melhor que contar centenas de amigos, é ter um punhado de amigos que contam!

Homerix disse...

Digo "... a noção precisa ..."

Guedes disse...

Amigo Homerix,

Obrigado pelo elogio feito ao post.

Geralmente, qualidade é mais importante do que quantidade e quando o assunto é amizade esta afirmação é inquestionável.

Disse no post e repito aqui: o problema não está na existência de certas coisas e sim no uso que se faz delas. Tendo noção quanto ao uso o resultado é benéfico. O problema é que a maior parte das pessoas está hoje engajada no MSN: Movimento dos Sem Noção.

Abraços,
Guedes