quarta-feira, 13 de julho de 2011

O Programa do Senhor

Creio que O Programa do Senhor seja bastante adequado para suceder A competitividade nossa de todos os dias, pois ele sugere um verdadeiro antídoto para a competição suicida na qual estamos envolvidos. Copiei-o do livro Pontos e Contos, psicografado por Francisco Cândido Xavier.
O Programa do Senhor
“À frente da turba faminta, Jesus multiplicou os pães e os peixes, atendendo à necessidade dos circunstantes.
(...) Recolhiam os discípulos a sobra abundante do inesperado banquete, quando Malebel, espadaúdo assessor da Justiça em Jerusalém, acercou-se do Mestre e clamou para a multidão haver encontrado o restaurador de Israel. Esclareceu que conviria receber-lhe as determinações, desde aquela hora inesquecível, e os ouvintes reergueram-se, à pressa, engrossando fileiras, ao redor do Messias Nazareno.
Jesus, em silêncio, esperou que alguém lhe endereçasse a palavra e, efetivamente, Malebel não se fez rogado.
- Senhor - indagou, exultante -, és, em verdade, o arauto do novo Reino?
- Sim - respondeu o Cristo, sem titubear.
- Em que alicerces será estabelecida a nova ordem? - prosseguiu o oficial do Sinédrio, dilatando o diálogo.
- Em obrigações de trabalho para todos.
O interlocutor esfregou o sobrecenho com a mão direita, evidentemente inquieto, e continuou:
- Instituir-se-á, porém, uma organização hierárquica?
- Como não? - acentuou o Mestre, sorrindo.
- Qual a função dos melhores?
- Melhorar os piores.
- E a ocupação dos mais inteligentes?
- Instruir os ignorantes.
- Senhor, e os bons? Que farão os homens bons, dentro do novo sistema?
- Ajudarão aos maus, a fim de que estes se façam igualmente bons.
- E o encargo dos ricos?
- Amparar os mais pobres para que também se enriqueçam de recursos e conhecimentos.
- Mestre - tornou Malebel, desapontado -, quem ditará semelhantes normas?
- O amor pelo sacrifício, que florescerá em obras de paz no caminho de todos.
- E quem fiscalizará o funcionamento do novo regime?
- A compreensão da responsabilidade em cada um de nós.
- Senhor, como tudo isto é estranho! - considerou o noviço, alarmado - desejarás dizer que o Reino diferente prescindirá de palácios, exércitos, prisões, impostos e castigos?
- Sim - aclarou Jesus, abertamente -, dispensará tudo isso e reclamará o espírito de renúncia, de serviço, de humildade, de paciência, de fraternidade, de sinceridade e, sobretudo, do amor de que somos credores, uns para com os outros, e a nossa vitória permanecerá muito mais na ação incessante do bem com o desprendimento da posse, na esfera de cada um, que nos próprios fundamentos da Justiça, até agora conhecidos no mundo.
Nesse instante, justamente quando os doentes e os aleijados, os pobres e os aflitos desciam da colina tomados de intenso júbilo, Malebel, o destacado funcionário de Jerusalém, exibindo terrível máscara de sarcasmo na fisionomia dantes respeitosa, voltou as costas ao Senhor, e, acompanhado de algumas centenas de pessoas bem situadas na vida, deu-se pressa em retirar-se, proferindo frases de insulto e zombaria...
O milagre dos pães fora rapidamente esquecido, dando a entender que a memória funciona dificilmente nos estômagos cheios, e, se Jesus não quis perder o contacto com a multidão, naquela hora célebre, foi obrigado a descer também.”

Concordam que O Programa do Senhor seja um chamado à cooperação? E também uma inversão na maneira de usar organizações hierárquicas? Cabe aos melhores cooperar para a melhoria dos piores, ao contrário da prática de explorá-los em seu próprio benefício. Mas, assim como Malebel, esta sociedade considera tudo isto estranho. O que ela parece não estranhar é a insana ideia de construir a verdadeira felicidade de poucos sobre a infelicidade da maioria. O que eu estranho é a pretensiosa autodenominação da espécie “hierarquicamente superior” deste planeta: “homo sapiens”. E vocês? Estranham alguma coisa?

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