terça-feira, 2 de agosto de 2011

A caminho do correio

Esta postagem apresenta um texto de um pequeno livro intitulado Momentos Serenos – Meditações para acalmar o corpo e a alma, de autoria de David Kundtz, o mesmo autor de A Essencial Arte de Parar.
A caminho do correio
Quanto mais infelizes nos sentimos, mais acabamos indo ao correio.
(Henry David Thoreau)
“‘Parece uma espécie de dependência’, dizia Thoreau. ‘As pessoas que saem mais orgulhosas do correio porque receberam um número maior de cartas são justamente as que têm menos contato consigo mesmas.’
É fácil entender a causa de nossos problemas culturais, espirituais e sociais nos dias de hoje. É o mesmo processo que Thoreau já descrevia 150 anos atrás. Nossa vida interior está ruindo.
A maioria das pessoas já percebeu isso, é claro, mas só saber que o problema existe não muda as coisas. O que aconteceria, porém, se alguém (você mesmo, talvez) conseguisse convencer algumas pessoas a deixarem de ir com tanta frequência ao correio para pegar correspondência e ficarem em silêncio e recolhimento, por alguns minutos ou até mesmo por uma hora, para observar e se atualizar sobre sua ‘vida interior’? Eu também poderia fazer isso mais vezes.
Eu costumava achar que a humanidade precisava apenas de um santo ou de um profeta, algo como um Francisco de Assis que nos ajudasse a despertar novamente nossos sentidos mais profundos por meio de seu exemplo e de seu amor. Ou de uma Joana D’Arc que nos inspirasse, com seu desdém por tudo aquilo que a maioria de nós acaba aceitando sem questionar, por sua maneira de ver o mundo e pela devoção às vozes em seu interior.
Mas sempre tivemos santos, canonizados ou não. Sempre tivemos profetas, conscientes de sua vida interior, espalhando com suas vozes a paixão e o amor, a virtude e a sabedoria, o exemplo e o servir, repetindo sempre a mesma mensagem.
Só que a maioria de nós continua indo ao correio.”
Mude hoje o seu caminho. Em vez de ir até o correio, faça uma viagem em seu interior.
O tempo passa, a tecnologia evolui exponencialmente, mas alguns aspectos do comportamento humano parecem não mudar. Mutatis mutandis, o que Thoreau descrevia, há 150 anos, continua ocorrendo. Substitua-se o correio convencional pelo eletrônico e pelas redes sociais e os problemas culturais, espirituais e sociais nos dias de hoje podem ser considerados os mesmos da época de Thoreau. As pessoas que saem mais orgulhosas das redes sociais porque adicionaram um número maior de amigos (sic) são justamente as que têm menos contato consigo mesmas. Nada mais óbvio, pois quem está sempre em contato com os outros não tem tempo para estar consigo mesmo.

Sim, nossa vida interior está ruindo. Sem ficar em silêncio e recolhimento, por alguns minutos ou até mesmo por uma hora, para observar e atualizar nossa “vida interior”, ela, inevitavelmente, ruirá. Sim, sempre tivemos profetas, conscientes de sua vida interior, espalhando com suas vozes a paixão e o amor, a virtude e a sabedoria, o exemplo e o servir, repetindo sempre a mesma mensagem. Porém, de pouco tem adiantado tais exemplos, pois a nossa preferência tem sido por outros. Em vez de seguir quem desperte nossos sentimentos mais profundos, preferimos seguir quem desperte nossas paixões mais rasas.

Esta postagem os fez lembrar de alguma publicada na última semana passada? Quando o ser humano está vazio, ao menos a caixa de correio tem de estar cheia. É com esta expectativa que a maioria de nós continua indo ao correio, as redes sociais e a qualquer coisa que nos conecte com os outros e nos desconecte de nós mesmos. As pessoas têm horror de estar conectadas a si mesmas. Há 58 anos, Rollo May escreveu um livro intitulado O Homem à procura de si mesmo. Passa-me pela cabeça escrever algo como “O homem em fuga de si mesmo.”

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