quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Conquiste sua independência na .....


Quem acompanha o Lendo e opinando não precisa ler esta postagem, pois ela foi, originalmente, publicada naquele blog devido à afinidade com a sua proposta. Mas pensei melhor e resolvi publicá-la também neste porque nem todos que o acompanham visitam aquele e por considerar o assunto deveras merecedor de reflexões.
Conquiste sua independência na .....
A intenção deste blog é estimular as pessoas a opinarem sobre notícias que deveriam mexer conosco, mas esta postagem é um pouco diferente. Em vez de uma notícia, ela focaliza uma propaganda publicada em um dos cadernos de classificados da edição de hoje (03.09.2011) do jornal O Globo. Sendo assim, diferentemente de todas as postagens anteriores, o “material” que serve de base para opinar restringe-se ao título da propaganda: Conquiste sua independência na ..... Os “.....” substituem o nome da concessionária de veículos.
Após assistir na Globo News o programa Globo Repórter, que nessa edição mostrava as dificuldades provocadas pela facilidade de concessão de crédito, saí para fazer minha visita ao meu amigo jornaleiro. Mas eu não sabia que dessa vez o tema para o meu blog viria das páginas de classificados. Realmente, como diz Joseph Climber, a vida é uma caixinha de surpresas. Ao ver a propaganda que empresta o título a esta postagem não consegui resistir à vontade de escrever sobre tal cilada, digo, propaganda.
Ver em uma propaganda de crediário a palavra independência, logo após ter assistido a um programa de televisão que mostrara vários casos de pessoas cuja vida ficara na dependência de instituições financeiras, foi demais pra mim. Em minha opinião, a expressão propaganda enganosa caracteriza uma redundância, pois a maioria das propagandas é enganosa, mas talvez tenha sido a simultaneidade entre assistir ao programa televisivo e ver a propaganda no jornal que tenha mexido tanto comigo e me levado a escrever este texto.
Em minha opinião, independência e carro são duas coisas que não combinam. Ficar livre do transporte público é um dos pretextos preferidos para comprar um carro, não é mesmo? E é a popularidade desse pretexto que inspira a propaganda publicada no jornal. Alegando querer livrar-se de um problema – a dependência de transporte público -, as pessoas acabam presas a outros. Quais são eles? O financiamento do carro, o financiamento do seguro (se tiver condições para fazê-lo), o financiamento da manutenção do carro (também se tiver condições), os engarrafamentos cada vez mais extensos (afinal todos desejam ser independentes), os riscos de deixar o carro aos “cuidados” de um flanelinha etc.
Nem todos os problemas mostrados no Globo Repórter foram causados por financiamento de carro, mas todos resultaram da incapacidade de resistir à tentação de, através de crédito fácil, tentar possuir tudo o que é produzido nesta sociedade onde as pessoas jamais serão independentes, pois elas são escravas de algo poderosíssimo: a propaganda.
Aliás, será que nós sabemos o que significa independência? Ou será que a independência que a maioria conhece é apenas aquela do grito Independência ou morte que os livros de história dizem ter sido dado pelo imperador Pedro I? Quanto à independência deste país, eu tenho minhas dúvidas, mas de que muitos ainda morrerão dependentes de coisas que a propaganda lhes impõe como necessidades, eu tenho certeza.
Independência e dívidas são coisas totalmente incompatíveis. Em um vídeo publicado no YouTube (http://www.youtube.com/watch?v=PQNKhlrxnsw&feature=related), John Perkins começa dizendo exatamente o seguinte: “Há dois modos de subjugar e escravizar uma nação. Um é pela força, o outro é pelas dívidas”. Parece-me óbvio que a afirmação seja aplicável também a cada pessoa. Portanto, se você almeja a independência, não acredito que seja na “.....” que você a conquistará, mas não sou ingênuo a ponto de acreditar que os convenci com esta afirmação. Afinal, se você é apaixonado por carro como todo brasileiro, creio que de nada adiantará o que escrevi até aqui, mas eu tentei.
Em tempo: Eu tenho carro, mas comprei-o a vista e jamais me endividarei para trocá-lo. Considerando que o meu carro não é daqueles considerados “inteligentes” (o que o impede de sair por aí sozinho) é ele que depende de mim, pois para sair da garagem ele depende de eu julgar que sair com ele seja a melhor opção de locomoção para a situação que se apresente.

Nenhum comentário: