sexta-feira, 23 de setembro de 2011

O segundo do espanto

Embora eu não tenha visto, sei que existe um filme intitulado A hora do espanto. Foi ele que inspirou o título que dei ao diálogo narrado abaixo.
Oito de maio de 2010. Na tarde daquele sábado, eu estava em casa fazendo um lanche quando o telefone tocou. Do outro lado uma voz feminina, educadamente, inicia o seguinte diálogo.
- Boa tarde! Por gentileza, eu quero falar com Manuel Pinheiro Guedes.
- Boa tarde! É ele.
- Eu sou fulana e falo em nome do American Express.
- American Express?
- Sim.
- Eu imagino que seja sobre cartão de crédito.
- Sim.
- Eu não uso cartão de crédito.
- Nenhum?!!! Disse ela visivelmente, digo, “ouvivelmente” espantada.
- Sim, nenhum.
- Então, boa tarde e obrigada.
- Por nada, boa tarde.
Devolvi o aparelho à base e fiquei imaginando o espanto que eu causara na gentil representante do American Express. O que ela poderia estar pensando? Talvez algo assim: Caramba! A telefonia está realmente avançada! E perigosa, pois se você não digita com atenção a ligação pode cair em outro planeta! Até mesmo em algum onde existe quem não use cartão de crédito! Mas como é possível alguém viver sem cartão de crédito? Que planeta será esse? Ainda bem que não insisti na conversa! Qual seria o custo de uma ligação interplanetária? Que dia, hein!
Interessante é que em relação ao assunto crédito aquele dia ainda apresentaria outro episódio. Algumas horas depois, na casa de uma das minhas cunhadas, deparei com o jornal Extra cuja manchete dizia que as lojas estavam oferecendo a possibilidade de pagar o presente do dia das mães em 24 meses. Aquilo feria a minha lógica. Como é que alguém aceita pagar durante dois anos por algo "válido" apenas por um, pois dali a doze meses teria que comprar um novo presente? Como é que alguém não enxerga que as facilidades oferecidas na hora de comprar têm tudo a ver com a dificuldade na hora de pagar?
Aquela manchete mexeu com a minha imaginação. Como reagiria um habitante daquele planeta onde caiu a ligação da representante do American Express diante daquela notícia? Será que o destaque do jornal Extra causaria espanto em um extraterrestre? Talvez, mas na maioria dos terráqueos, infelizmente, não causa espanto algum. Creio que a interpretação equivocada da máxima - O dever acima de tudo – tenha levado tal maioria a desenvolver um desejo inexplicável (para um ET) de endividar-se.
Não sei o que passou pela cabeça da gentil representante do American Express após aquele telefonema, mas creio que o segundo em que pronunciou aquele “Nenhum?!!!” tenha sido para ela o segundo do espanto. Será que esta postagem também causará espanto? Sim, é possível viver sem cartão de crédito, acreditem!

Um comentário:

Anônimo disse...

AdoreI a postagem.