domingo, 26 de fevereiro de 2012

"O que não me mata me fortalece" ou "Os problemas de hoje provêm das 'soluções' de ontem"

Após um longo período sem postagens, eis que surge uma com um título longo e estranho! Mas que será devidamente explicado. Vocês já tiveram a oportunidade de ao comprar uma revista poder escolher entre duas ou três capas? Pois é! Esta postagem pega carona nessa ideia e oferece a possibilidade de escolha entre dois títulos, pois, no meu entender, ambos têm tudo a ver com ela. Imagino que, à primeira vista, alguns achem estranha esta afirmação, mas creio que a estranheza desaparecerá à medida que o texto for sendo lido. A primeira frase do título é de Friedrich Nietzsche e a segunda é de Peter M. Senge.
Embora tenha sido dita em outro contexto, entendo que a frase de Nietzsche cabe, perfeitamente, na proposta desta postagem. Creio que tal frase pode ser "dita" por todo e qualquer problema que se tenha que enfrentar, independentemente de sua natureza, pois, se não conseguirmos "matá-lo", ele se fortalece e se torna cada vez mais difícil de solucionar. A frase de Peter Senge afirma que as "soluções" originam novos problemas. Ou seja, vivemos imersos em problemas. Mas por que isto acontece? Porque, embora a espécie humana seja inteligente para muitas coisas, para outras ela é bastante estúpida. E entre estas está a maneira como lida com os problemas que a afligem. Em vez de buscar soluções que os eliminem ela prefere usar paliativos e imaginar que os solucionou. Vá ter imaginação assim vocês sabem onde!
Infelizmente, a maioria (sempre ela!) discorda da seguinte opinião de Winston Churchill: "É inútil dizer: 'Estamos fazendo o possível'. É preciso fazer o que é necessário." O que é fazer o possível? É satisfazer-se com algo que alivia momentaneamente a situação, mas que não soluciona o problema. O que é fazer o necessário? É empenhar-se com afinco para, efetivamente, solucionar o problema. Lamentavelmente, o que mais se vê nesta vida são pessoas que se satisfazem com pseudosoluções. Quem atua ou atuou no mundo corporativo, e que seja adepto da opinião de Churchill, irrita-se, facilmente, com a quantidade de "soluções" que são aplicadas em tal mundo. Uma das chefes que tive, tinha o seguinte "mantra": "O ótimo é inimigo do bom".
O que ela queria passar aos subordinados com tal "mantra"? Que a busca do ótimo impede de alcançar o bom. Mas o que significa o ótimo? A solução definitiva. Aliás, solução definitiva é redundância, pois se for solução é definitiva. E o que significa o bom? Uma solução temporária. E, em conformidade com a afirmação anterior, se for temporária não é solução; é apenas um paliativo. Solução temporária é aquela "coisa" que ao não "matar" o problema o torna mais forte. É aquilo que aplicado ontem originou os problemas de hoje. Infelizmente, tal "mantra" faz grande sucesso não apenas no mundo corporativo, mas também na vida, de modo geral. Portanto, o que não faltam são demonstrações da validade do título desta postagem, mas, para não torná-la mais longa, darei apenas um exemplo: a maneira como esta sociedade atua no combate à insegurança em que está imersa.
Vocês já perceberam que quanto mais se investe em segurança, mais inseguro fica o mundo em que vivemos. Por quê? Porque aquilo que não se "mata" torna-se mais forte. E ao dizer aquilo que não se mata a referência não é aos bandidos e sim as condições que propiciem o seu surgimento. Em fevereiro de 1942, Alberto Pasqualini, que foi senador da República e que dá nome a uma refinaria da Petrobras, disse: "O analfabetismo, a falta de ocupação, a vida difícil e a miséria poderão criar uma grave situação de insegurança que evoluiria para uma criminalidade irreprimível". Passados setenta anos, os fatores apontados por Pasqualini não foram eliminados, tornaram-se mais fortes e a fatídica previsão está cada vez mais presente nesta sociedade habituada a gerar com as "soluções" de ontem os problemas de hoje.
Ainda com relação à insegurança reinante nesta sociedade, faço uma interessante paráfrase a partir de uma conhecida frase: "Cidade limpa não é a que mais se varre; é a que menos se suja". Mutatis mutandis, "Cidade segura não é aquela na qual mais se prende; é aquela na qual menos se delinque". Ou seja, a solução para a insegurança é "matar" as condições que propiciem o surgimento da delinquência, e não os delinquentes.
Como afirmei acima, a questão da insegurança é apenas um exemplo da validade da aplicação do título desta postagem, mas ele se presta a inúmeras outras aplicações. A maneira como lidamos com a saúde, a educação, os relacionamentos etc. Enfim, o modo como lidamos com quase tudo na vida. Enquanto não buscarmos verdadeiras soluções para conviver harmoniosamente com os demais seres deste planeta, as desavenças continuarão se fortalecendo e jamais serão eliminadas.
Agora que terminou o Carnaval, um novo ano inicia-se neste País. Então, que tal começá-lo adotando uma nova maneira de pensar? Albert Einstein diz que "não podemos resolver nossos problemas usando o mesmo tipo de pensamento que os criou". Portanto, é imprescindível uma nova maneira de pensar. É preciso entender que uma nova maneira de pensar não é pensar coisas novas: é pensar de outra maneira. E pensar de outra maneira passa pela aceitação das duas afirmações que compõem o estranho título desta postagem. Título que eu afirmei que deixaria de ser estranho à medida que a postagem fosse sendo lida. E aí, ele ainda parece estranho? Espero que não!

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom!