quinta-feira, 7 de junho de 2012

E uma mulher que carregava o filho nos braços disse: "Fala-nos dos filhos"

Creio que um dos grandes benefícios da comunicação através de blogs e de e-mails seja a facilidade de interação entre quem escreve e quem lê. Acrescentando-se o método das recordações sucessivas o resultado é o compartilhamento de coisas bastante interessantes. As reflexões provocadas por "A educação e o significado da vida" levaram o Luciano Fabiano a lembrar da Mãe desnecessária e esta me fez lembrar um belíssimo texto de Gibran Khalil Gibran que faz parte de seu maravilhoso livro O Profeta.
O livro narra o dia em que um profeta, que durante doze anos ficara exilado numa cidade longínqua, retorna à ilha onde nascera. Enquanto o navio que o reconduzirá não chega, o povo da cidade cerca o profeta e pede-lhe que lhe deixe, antes de partir, algo de sua sabedoria e de sua compreensão. E ele pergunta: 'E de que quereis que vos fale?'. Então, cada um sugere um assunto e o profeta o comenta.
"E uma mulher que carregava o filho nos braços disse: 'Fala-nos dos Filhos'.
E ele disse:
'Vossos filhos não são vossos filhos.
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.
Vêm através de vós, mas não de vós.
E embora vivam convosco, não vos pertencem.
Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,
Porque eles têm seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;
Pois suas almas moram na mansão do amanhã, que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.
Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós,
Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.
Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.
O Arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a Sua força para que Suas flechas se projetem, rápidas e para longe.
Que vosso encurvamento na mão do Arqueiro seja vossa alegria:
Pois assim como Ele ama a flecha que voa, ama também o arco que permanece estável.'"
Foi a partir desse texto que tomei conhecimento do livro durante um dos encontros de um círculo de pais do qual participei na época em que os filhos (que vieram através de mim e da minha esposa, mas não são nossos) frequentavam o ensino fundamental. Comprei o livro, o li e reli inúmeras vezes, e ainda pretendo relê-lo, pois, segundo a introdução apresentada em uma das traduções do livro:
"Ao lê-lo e relê-lo, o leitor sente-se transportado nas asas da poesia e da fé a um mundo encantado, porém, real, onde sabe que não poderá viver, mas aonde gostaria de voltar de vez em quando, como gostaríamos de visitar os cumes das montanhas para renovar-nos e revigorar-nos, embora saibamos que não poderemos permanecer nestas alturas."
No meu entender, o trecho final do texto de Khalil Gibran (repetido abaixo) tem tudo a ver com Mãe desnecessária. Afinal, para as flechas já arremessadas o arco torna-se desnecessário.
"Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.
O Arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a Sua força para que Suas flechas se projetem, rápidas e para longe.
Que vosso encurvamento na mão do Arqueiro seja vossa alegria:
Pois assim como Ele ama a flecha que voa, ama também o arco que permanece estável."
Será que alguém lembrará mais alguma coisa que tenha a ver com o tema educação?

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