sábado, 15 de março de 2014

O Velho Vendedor de Cebolas

Neste blog onde as postagens costumam ter alguma relação com a anterior, há algum tempo eu aguardava por um momento propício para espalhar a história intitulada O Velho Vendedor de Cebolas. E, no meu entender, esse momento surgiu quando associei a comparação de importância feita por D. H. Lawrence em sua afirmação de que "o futuro da humanidade não será decidido pelas relações entre nações, mas pelas relações entre homens e mulheres" (citada na postagem anterior) com a comparação de importância implícita na atitude do protagonista da história citada acima e apresentada abaixo: a de julgar as relações humanas mais importantes do que as relações comerciais. Considerando que encontrei a história no livro intitulado Vida de Meditação, de Ken Gire, que por sua vez a encontrou em outro livro, achei interessante apresentar não apenas a história, mas também como ele a encontrou.
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Um pouco da noção da santidade da vida também me foi revelado em um momento de meditação em uma loja de livros usados, pouco tempo depois de ter assistido ao filme Dança com Lobos, que estimulou meu interesse pela cultura dos indígenas americanos. Percorrendo as prateleiras, topei com um livro fino, intitulado The Gospel of the Redman (O Evangelho do Pele Vermelha), de Ernest Thompson Seton.
Escrito por um homem branco que vivera entre os indígenas, o livro continha visões perspicazes de ambas as culturas, como mostrava o parágrafo inicial do primeiro capítulo:
"A cultura e a civilização do Homem Branco são essencialmente materiais; ele mede seu sucesso pela quantidade de propriedades que adquiriu para ele mesmo. A cultura do Pele Vermelha é fundamentalmente espiritual; sua medida de sucesso é quanto serviço ele já prestou a seu povo".
Considero essa análise muito pungente e bem convincente.
Folheei as páginas amareladas e parei em uma história que ilustrava a diferença entre as duas culturas. O título era simples: O Velho Vendedor de Cebolas.
Um velho índio, chamado Pota-lamo, estava em um canto sombrio de um velho mercado da cidade do México. À sua frente havia vinte réstias de cebolas. Um americano, de Chicago, foi até ele e disse:
- Quanto custa uma réstia de cebolas?
- Dez centavos, respondeu Pota-lamo.
- E duas réstias?
- Vinte centavos, foi a resposta.
- E três réstias?
- Trinta centavos.
- Não vejo desconto, disse o americano. Você aceitaria vinte e cinco centavos?
- Não.
- Quanto você cobra por todas as vinte réstias?
- Eu não venderia todas as réstias para você.
- Por que não? Você não está aqui para vender cebolas?
- Não, respondeu o índio. Estou aqui para viver minha vida. Amo este mercado. Gosto de ver as pessoas em seus ponchos vermelhos. Amo a luz de sol e o balanço das palmeiras. Amo quando Pedro e Luiz vêm até aqui me dar bom dia e conversar sobre filhos e plantações. Gosto de ver meus amigos. Isso é minha vida. É por isso que me assento aqui o dia inteiro e vendo minhas vinte réstias de cebolas. Mas, se as vendo para um único cliente, meu dia termina. Perdi a vida que amo, e isso eu não vou fazer.
Pensei muito nessa história, sobre valorizar a comunidade acima do comércio, e me pareceu que este estilo de vida era mais cristão do que o meu.
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Que história perturbadora! E provocadora de uma infinidade de reflexões.

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