quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Solução para os nossos conflitos (I)

Após alertar para a inconsequência de perambular por aí sem notar que está sem a sua cabeça e para os males advindos do desvio pelo torpor, este blog apresenta a solução para os nossos conflitos. Solução encontrada em um texto publicado na edição de OUT – DEZ / 2005 da revista SOPHIA, atribuído a Jiddu Krishnamurti (1895 – 1986), filósofo, educador e conferencista indiano que, por quase sessenta anos, viajou pelo mundo falando para grandes audiências sobre a necessidade de uma mudança radical no comportamento da humanidade. Um texto no qual ele diz "que antes de agirmos e nos relacionarmos uns com os outros – o que constitui a sociedade – é essencial começar a compreender a nós mesmos; que antes que possamos construir algo, precisamos saber o que somos".
Com a finalidade de não desanimar leitores de pouco fôlego, mais uma vez recorro ao método Jack: vamos por partes. Sendo assim, segue a primeira de duas postagens nas quais dividi o texto.
Solução para os nossos conflitos
É muito importante ser sincero no mais alto grau. Eu gostaria de saber se há realmente um interesse sincero em ir de um conferencista para outro, em passar de um guia para outro, em frequentar grupos e organizações diferentes na busca de alguma coisa. Antes de avaliar o que significa estar interessado, precisamos saber o que procuramos.
O que a maioria de nós procura? O que desejamos? É muito importante definir isso. A maioria de nós provavelmente anda à procura da paz e felicidade, num mundo atormentado por agitações, guerras e disputas. Todos querem um refúgio onde se encontre um pouco de paz. Saímos, portanto, em busca do que desejamos, indo ora a um guia, ora a outro, ora a uma organização religiosa, ora a outra.
Estamos buscando a felicidade ou apenas alguma espécie de satisfação, que esperamos que nos proporcione a felicidade? Existe uma diferença entre felicidade e satisfação. Pode-se procurar a felicidade? É possível encontrar satisfação, mas é impossível achar a felicidade. A felicidade é derivada, é um subproduto de uma outra coisa.
Por isso, antes de empenhar a mente e o coração em uma tarefa que exige grande atenção e cuidado, precisamos verificar se o que procuramos é felicidade ou satisfação. Parece que a maioria de nós está à procura de satisfação. Queremos nos sentir satisfeitos e encontrar um sentimento de plenitude, no fim da nossa busca.
Pode-se procurar alguma coisa? Por que razão as pessoas comparecem às minhas palestras? Eu gostaria de saber por que elas se dão o incômodo de percorrer longas distâncias, em dias de calor, para me ouvir falar. Com que propósito elas escutam? Estão procurando uma solução para suas dificuldades? É isso que as faz ir de um conferencista a outro, passar por várias organizações religiosas, ler livros, etc? Ou querem descobrir a causa de todas as dificuldades, aflições, disputas e lutas? Para isso não é preciso ler muitos livros, frequentar tantas reuniões ou andar à procura de um instrutor.
O que se requer talvez seja, simplesmente, clareza de propósito. Afinal quem busca a paz pode encontrá-la facilmente. Qualquer um é capaz de se devotar cegamente a uma causa ou a uma ideia, e nela se abrigar. Mas isso, naturalmente, não resolve o problema. O isolamento ou enclausuramento numa ideia não significa libertação dos conflitos. Portanto, precisamos saber o que cada um de nós deseja, tanto interior quanto exteriormente.
Se temos clareza a esse respeito, então não é necessário ir a parte alguma, a nenhum instrutor, igreja ou organização. Nossa dificuldade é ter clareza sobre as nossas intenções. Podemos ter essa clareza? Será que ela vem como resultado do que os outros dizem, seja o instrutor mais sublime ou o pregador medíocre? Precisamos recorrer a alguém para descobrir alguma coisa?
É isso, entretanto, o que estamos fazendo. Lemos livros e mais livros, frequentamos reuniões, discutimos e tentamos, dessa maneira, achar um remédio para os conflitos e as atribulações da vida. Ou pensamos que já achamos uma organização, instrutor ou livro que nos satisfaz, e aí ficamos, cristalizados e fechados.
Na verdade, temos que nos perguntar, com real interesse e profundidade, se a paz, a felicidade, Deus, ou o que quer que seja, pode nos ser dado por outra pessoa. Essa busca incessante, essa constante aspiração, pode nos dar aquele extraordinário senso da realidade, aquele Ser criador que se manifesta quando verdadeiramente compreendemos a nós mesmos? O autoconhecimento vem como resultado da nossa busca, de seguir outra pessoa, de pertencer a uma organização, de ler livros, etc?
Essa é, afinal de contas, a questão principal: enquanto eu não compreender a mim mesmo, não terei base para o pensamento, e a minha busca fracassará. Posso me refugiar em ilusões, fugir das lutas e disputas, render culto a outro indivíduo, procurar a salvação em outra pessoa. Mas enquanto desconhecer a mim mesmo, enquanto desconhecer todo o processo da minha consciência, não terei base alguma para o pensamento, para o afeto e para a ação.
Parece que o que menos desejamos é conhecer a nós mesmos. Mas essa é a única base sobre a qual podemos construir algo. Antes que possamos construir, precisamos saber o que somos.
"Parece que o que menos desejamos é conhecer a nós mesmos. Mas essa é a única base sobre a qual podemos construir algo. Antes que possamos construir, precisamos saber o que somos."
Continua na próxima quinta-feira

Nenhum comentário: