segunda-feira, 20 de março de 2017

'A criança não quer pais perfeitos, ela quer pais que estejam presentes' (I)

A postagem "Dia internacional da Mulher – 2017" cita alguns trechos do documentário O Começo da Vida. Esta apresenta a primeira de duas partes em que dividi uma reportagem publicada na edição de 2 de maio de 2016 do jornal O Estado de S. Paulo, em uma página intitulada Direto da Fonte - Sonia Racy. Reportagem onde são apresentados alguns trechos de uma entrevista concedida por Estela Renner, diretora do documentário, à repórter Marília Neustein.
'A criança não quer pais perfeitos, ela quer pais que estejam presentes'
Diretora de O Começo da Vida, que estreia esta semana, relata o que aprendeu ouvindo pais e especialistas sobre a importância do amor e do ambiente na primeira infância
Quando a cineasta Estela Renner recebeu o convite para dirigir um filme sobre a primeira infância não imaginava que passaria por tantas descobertas. Mas, à medida que sua pesquisa se desenvolvia, surpreendeu-se com a capacidade transformadora desse período das crianças. É esse retrato que ela aborda e expõe no documentário O Começo da Vida que estreia em São Paulo na quinta-feira.
Interessada em filmes engajados, a diretora de Muito Além do Peso saiu à cata de um recorte que se mostrasse capaz de "transformar a sociedade de alguma maneira". E obteve êxito, como explica nesta entrevista à repórter Marília Neustein. "O filme se tornou uma ferramenta de empoderamento para os pais. Porque mostra que a criança não precisa de brinquedos caros e nem de experiências caras. O que ela precisa é muito mais acessível", afirma. E acrescenta: "Quem já viu uma criança fazer suas descobertas encontrou ali o extraordinário". É o "estar presente, mesmo cansada. A criança não quer os pais perfeitos, quer que estejam presentes".
O longa, que será exibido dia 26 no BID, em Washington, e dia 27 na ONU, em Nova York, procura demonstrar como algumas dessas questões são universais. De que forma? Estela viajou e entrevistou pessoas de nove países. Sua lista inclui gente comum e celebridades como Gisele Bündchen e o Nobel de Economia James Heckman. Dessa diversidade extraiu lições sobre o peso do amor, das relações em família. Deu-se conta de que não estava fazendo um filme "sobre primeira infância", mas "sobre um projeto de humanidade". Abaixo, os melhores trechos da entrevista.
'Não era filme de 1ª infância. Era sobre a humanidade'
Quais motivações a levaram a fazer um documentário sobre esse tema?
A minha produtora, a Maria Farinha Filmes, tem um interesse grande em produzir filmes engajados, que as pessoas lá na ponta estão desejando como informação. Isso aconteceu com o Criança, a Alma do Negócio; Muito Além do Peso, Território do Brincar, Tarja Branca.
E por que primeira infância?
A Fundação Maria Cecília Souto Vidal nos procurou, porque queria um filme focado nesse tema – e sem nenhum recorte específico. Quando o convite chegou, pensei no desafio e numa grande pesquisa. Então, me questionei qual seria o recorte adequado.
E o que descobriu com a sua pesquisa?
Durante todo o processo de leituras ou entrevistas com especialistas, uma constatação se repetia: que a maior revolução da neurociência, da pedagogia, da psiquiatria, é que a criança é formada não só a partir da sua carga genética, mas também a partir das relações que ela tem com o meio ambiente.
Concretamente, que ambiente e que interações são essas?
Foi justamente o que me perguntei. Ficou claro que, ao falar de ambiente e interações, todos esses especialistas estavam falando de amor. A relação que temos com nossos irmãos, avós, com as histórias que nos são contadas... Isso é o que nos forma. Então, se temos tudo isso pra dar a uma criança, por que não estamos dando? Como podemos ser esse ambiente para as crianças? Fiz um filme inteiro sobre isso.
Você já explicou que o filme é dividido em atos.
Sim. No primeiro mostramos que o bebê não é um objeto de cuidados, mas uma pessoa potente, capaz. Isso deve ser levado muito a sério. Meu olhar em relação aos bebês mudou muito – veja, eu tenho três filhos. Eu achava importante as crianças brincarem, mas não entendia o que existia dentro da brincadeira. O filme abre para essa importância dos relacionamentos: com a mãe, o pai, a natureza, o brincar, a importância de ficar em silêncio. E o terceiro ato fala um pouco do que pode acontecer se a criança não tem isso.
E como foi essa parte?
Foi muito forte. No começo eu achava que estava fazendo um filme sobre primeira infância. Passando o tempo, descobri que estávamos falando sobre um projeto de humanidade. Algo bem maior do que nós.
'Não era filme de 1ª infância. Era sobre a humanidade'
Continua na próxima sexta-feira

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