terça-feira, 11 de abril de 2017

Dias melhores virão (I)

Quando eu digo que sem "coincidir palavras e atitudes" todo o resto pode ser abandonado me baseio inclusive na PNL – Programação Neuro Linguística que diz: O que uma pessoa acredita, o que pensa ser possível ou impossível, determina o que pode, ou não, fazer. Há uma velha frase que diz: "Quer você acredite que pode fazer uma coisa, ou acredite que não pode, você está certo". De uma certa forma é verdade, pois quando você não acredita que possa fazer alguma coisa, está mandando mensagens coerentes ao seu sistema nervoso, que limitam ou eliminam sua capacidade de conseguir aquele mesmo resultado. Se, por outro lado, estiver consistentemente enviando congruentes mensagens ao seu sistema nervoso que dizem que pode fazer alguma coisa, ele então avisa seu cérebro para produzir o resultado que deseja e isso abre a possibilidade para que aconteça.
O parágrafo acima foi extraído do livro Poder Sem Limites, de Anthony Robbins. Por que resolvi usá-lo para iniciar esta postagem? Porque, acreditar, ou não, que Dias melhores virão é algo que, no meu entender, tem tudo a ver com o que nele é dito. Feito este preâmbulo, segue a primeira de três partes nas quais dividi uma reportagem de Raphaela de Campos Mello, intitulada Dias melhores virão, publicada na edição de março de 2017 da revista Bons Fluidos.
Dias melhores virão
Enquanto muitos apontam para o apocalipse, o filósofo e escritor Charles Eisenstein acredita na emergência de um mundo onde o senso de comunidade prevalece sobre a cisão entre os seres.
Violência, intolerância, desequilíbrio ambiental, crise econômica, social e política. O mundo não vai nada bem. Como efeito colateral, a perspectiva do colapso em escala planetária cava dentro de nós o abismo da incerteza – terreno fértil para o medo. "O que será do amanhã?", todos se perguntam. Pois há quem vislumbre nessa turbulência o raiar de tempos melhores. É por isso que o primeiro livro traduzido para o português do filósofo e escritor americano Charles Eisenstein ganhou o auspicioso título de O Mundo Mais Bonito Que Nossos Corações Sabem Ser Possível (ed. Palas Athena, R$ 52,00, 328 págs.).
Ativista da economia da dádiva, baseada na partilha da riqueza desvinculada do crescimento econômico, Eisenstein acredita na capacidade criadora de cada indivíduo para transformar todas as esferas da atividade humana. Mas, para chegarmos a esse ponto, ele enfatiza, precisamos deixar para trás o velho paradigma calcado no individualismo e no materialismo. "O mundo que conhecemos não está funcionando mais. Temos que urgentemente resgatar o sentido de comunidade", ele propôs à plateia do Sesc Vila Mariana, em São Paulo, onde ministrou no final de novembro a palestra Repensar o Mundo: As Transformações Econômicas, Políticas e Pessoais. BONS FLUIDOS acompanhou a passagem do pensador pelo Brasil e depois conversou com ele por Skype. A seguir, os porquês do otimismo dele.
Nesse momento de crise ecológica, social, política e econômica, a insegurança e o medo crescem entre as pessoas. Como deveríamos reagir a tudo isso que nos aflige?
Quando aquilo que conhecemos começa a desmoronar, somos incitados a sentir culpa e raiva e, mais que isso, a encontrar inimigos. É importante recusar esses convites. Com quem quer que estejamos interagindo devemos fazer o esforço de indagar: "Como é estar na pele dessa pessoa? Como é estar na pele do meu oponente político? Qual é a história dele? Se eu estivesse no seu lugar me comportaria da mesma maneira?". Devemos praticar esse exercício até mesmo com as pessoas que consideramos as mais malvadas. Se compreendermos isso, estaremos vivendo na realidade – na qual estamos todos interligados – e não numa projeção de separação criada por nós e que consideramos real.
Você enxerga uma transição entre um mundo em franco colapso e o nascimento de uma nova realidade. Afinal, o que exatamente estamos deixando para trás e o que estamos semeando para colher adiante?
Estamos deixando para trás o que chamo de "história da separação": separação entre homem e natureza, entre os seres humanos, entre indivíduo e comunidade. É a ideologia da separação que está destruindo o planeta e a sociedade, que está gerando todas as crises que enfrentamos atualmente, porque parte desse paradigma está ancorado na competição. Claro que certa dose de competitividade é natural, mas atingimos uma escala excessiva e artificial gerada pelo sistema econômico vigente que nos faz sentir apartados uns dos outros.
A verdade é que essa crise não irá desaparecer tão cedo. Muito pelo contrário, ela ficará cada vez pior. Tal cenário só poderá ser transformado quando o que consideramos "normal" entrar em colapso. Daí então surgirá espaço para o novo. O mundo que conhecemos não está funcionando mais. Temos que urgentemente resgatar o sentido de comunidade. E lembrar que a todo momento podemos fazer escolhas e decidir que futuro queremos ajudar a construir.
"Estamos deixando para trás uma história de separação: entre o homem e a natureza, entre os seres humanos e entre o indivíduo e a comunidade"
Por que nos sentimos tão distantes uns dos outros se a tecnologia está aí para conectar pessoas e ideias?
A tecnologia supre apenas parte da necessidade humana de conexão. E leva a alguns paradoxos. Por exemplo, quando estamos face a face com alguém, é custoso chamar essa pessoa de idiota e mandá-la para o inferno. Mas na internet as pessoas fazem isso o tempo todo justamente porque não se trata de uma conexão real. A tecnologia cumpre o importante papel de aproximar as pessoas ao redor do mundo, sem dúvida, mas, se ela se torna o único modo de contato, os indivíduos se tornam solitários, pois sua necessidade de obter outros tipos de ligação não está sendo suprida.
Nos Estados Unidos, as pessoas passam a maior parte do tempo dentro de suas casas, plugadas em suas TVs, computadores e videogames, e o mundo lá fora é um mundo de estranhos, desconfortável. Mesmo a própria vizinhança. Só que em um mundo como esse não há comunidade. Seres humanos precisam sentir que são conhecidos por seus pares, e vice-versa – eis uma necessidade emocional profunda. Quando estão na rua precisam sentir como se estivessem em sua própria casa. Temos que voltar a nos sentir íntimos das pessoas e da natureza.
Pode falar mais sobre esse resgate?
Quando toda pessoa é um estranho, e também toda árvore, toda planta, todo animal; quando obtemos tudo de longe – nossa água vem de canos; nossa comida, de fábricas distantes; nosso entretenimento e nossas amizades, da internet -, nunca nos sentimos em casa. Parece que sempre, independentemente de onde estamos, vivemos algo fake. E a verdade é que temos uma profunda necessidade de recobrar essas conexões perdidas. O que nos foi dito sobre quem somos é que somos seres separados, indivíduos em um mundo de outros; que a nossa felicidade, o nosso bem-estar e até mesmo a nossa existência não dependem do mundo à nossa volta; que, enquanto tivermos dinheiro, segurança e controle suficientes, ficaremos bem. Mas tudo isso é uma grande mentira.
Continua na próxima terça-feira

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